sábado, 22 de janeiro de 2011

Ilha dos Lençóis Roteiros


A rotina do visitante consiste, basicamente, em não fazer nada, ou no máximo, muito pouca coisa, além de curtir aquela paz toda. Os dias passam lentamente, pois o tempo ali não é medido por relógios, mas pelas marés e pelo sol. O negócio é andar na praia, que é realmente espetacular, e depois embarcar na canoa do Lailson pra ver os guarás, pássaro vermelho dos manguezais, chegando em revoadas nos finais de tarde para dormir cerca de 1 km da vila.
A vila tem carências, com certeza, mas há que se ater não ao que falta, mas ao que sobra, como a beleza da paisagem e hospitalidade dos ilhéus. Com espírito e o coração abertos esta pode ser uma grande viagem. Eu, por exemplo, fui embora deixando bons amigos por lá. E eles me lembraram, na hora da partida da lenda do Rei Sebastião. Disseram que se alguém sair levando alguma coisa, que seja uma simples conchinha, o barco pode afundar. Por via das dúvidas, preferi não arriscar.
Além das belas paisagens e das lendas do sebastianismo, há outro motivo que fez a Ilha dos Lençóis ganhar fama no Maranhão: a alta incidência de albinismo entre os moradores. Devido aos casamentos entre parentes, a genética de algum membro albino da comunidade que chegou na ilha sabe-se lá quando, foi sendo transmitida entre diversas famílias. A tal ponto que, uma década atrás, 10% de toda a população local tinha a característica de pele e cabelos tão alvos quanto as areias das dunas. Essa porcentagem, porém, já diminuiu bastante. Preocupados com o perigo cancerígeno do sol forte na pele sem melanina, muitos albinos adultos foram embora para o continente. A maioria da gente branca da ilha são crianças.

Eles recebem atenção especial da Doutra Germana, que não cansa de orientar os pais: colocar calça nos filhos, camisa de manga comprida, chapéu e protetor solar, assim como evitar sair de casa entre 10h da manhã e 16h. Maria de Fátima, mãe de dois meninos albinos - Robert, de 15 anos, e o Ronald, de 12 anos - sabe que o sol é inimigo mortal. O pai dela sofreu seis tumores de pele durante as quatro décadas que viveu na ilha. Então ela insiste, proíbe os meninos de sair, vem com o protetor pra passar nos garotos. "Mas eles tem fogo, querem acompanhar os amigos". Basta um descuido, que eles pulam a janela para se juntar a brincadeira. Quinze ou vinte minutos de exposição sem o protetor solar voltam com queimaduras na pele até bem mais ardidas do que as palmadas que recebem depois de Dona Maria.


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